Estávamos no meio da sala, conversando, quando começou. Os acordes invadiram a casa e, com um sorriso, ele colocou sua mão na minha. Em uma gravação cheia de ruídos, Frank Sinatra cantava Strangers in the Night, e nós, juntos, dançávamos, desviando do sofá, rodopiando em torno das cadeiras, da mesa, rindo. Por um momento, as pessoas ao redor desapareceram e éramos só os dois, unidos pelos mesmos passos, em harmonia na mesma canção. Se o mundo pudesse parar, esse seria o momento ideal: quando duas pessoas se encontram no mesmo ritmo.
Sempre gostei de dançar junto. Quando era bebê e custava a dormir, meu pai costumava colocar um disco na vitrola e dançar comigo. Em poucas músicas, estava sonhando, provavelmente com bailes e vestidos. Na minha família, as reuniões sempre acabam com os casais bailando, não importa a hora nem o lugar. Tanto faz se estão na garagem, no jardim, tomando café na copa. De repente, a tia tira a sobrinha, o pai canta um refrão e pega a filha pelo braço, os irmãos improvisam um tango em um ritmo que só eles entendem. Foi assim que aprendi a fazer o dois prá lá, dois prá cá e descobri quanto é divertido esse diálogo silencioso de movimentos.
Até hoje, eu me deslumbro com casais dançando. Fico encantada com os rodopios dos jovens e velhos ao som de boleros, marchinhas, sambas-canção e músicas lentas de todos os tempos. Adoro espiar janelas de escolas de dança e pistas de baile, onde uma vez vi um par de senhoras dançar a valsa mais linda de toda a minha vida. Não desperdiço nenhuma oportunidade e, sempre que posso, tiro as saias do armário, arranjo um par e danço como se não houvesse amanhã. Para mim, enquanto existirem duas pessoas dispostas a conversar pelo ritmo das canções, junto será sempre o meu jeito de dançar.
Texto de Rita Loiola, originalmente publicado na edição #26 da Revista Sorria. Para ler mais textos inspiradores como esse, assine a Revista Sorria.



